30/06/2025




Vamos falar sobre SEU livro?

Você que está começando um romance, tem as primeiras páginas, um projeto, manda pra mim, que a gente vai discutir os temas, os caminhos e a estrutura do seu romance.

Estruturando Seu Romance é um curso que eu criei no início do ano, derivado das minhas leituras críticas, para a gente falar mais sobre como armar uma estrutura e seguir com a escrita, com fluxo de consciência, escaleta, escaleta reversa e a abertura do romance.

Com frequência sou jurado de concursos e prêmio literários (comecei a publicar por um prêmio, inclusive) e eu vejo como é importante fisgar o leitor já nos primeiros parágrafos, já na frase de abertura. E dá tranquilamente para fazer isso com seu texto.

É uma oportunidade de a gente avaliar suas primeiras páginas, trocar com outros autores e fazer exercícios para destravar. (Mais barato do que uma leitura crítica.)

Vai ser nos sábados de agosto - 9, 16 e 23, das 10h às 12h, por Zoom. Deve ser meu último curso este ano!

As informações básicas estão no flyer e o email para saber mais e se inscrever. Primeiros inscritos têm desconto, para viabilizar a turma. 
Todas as 

24/06/2025

COMO IDENTIFICAR IA NA FICÇÃO LITERÁRIA



Esses dias eu comentava sobre Inteligência Artificial na escrita, que não vejo graça, porque a graça de escrever um livro é escrever um livro.

 
Mas eu tenho visto cada vez mais, lido cada vez mais, revisando traduções e mesmo em leitura crítica. Fica tudo com a mesma cara e tô me tornando um especialista em identificar.

 
Esses dias peguei um livro que tinha todos os maneirismos de IA; o autor tinha me pagado para a leitura crítica, então fiz meu trabalho, fui lendo e marcando artesanalmente: “isso parece IA”, “isso parece tradução mal-feita...”

 
(Depois o autor me escreveu confessando que tinha usado a ferramenta...)


Daí tava pensando nos três pontos principais que me fazem identificar um texto de ficção feito por IA:

 
1. Falsa coloquialidade: parece que a IA quer mais parecer humana do que escrever corretamente. Então abusa das contrações – o pra, tava, prum -, não só nos diálogos, mas na narração também. Ao ponto de soar falso.


2. Má tradução: a IA usa expressões em português que parecem tradução direta e dura do inglês. E usa a tradução mesmo quando não é necessário – tipo, para nomes de drinques. Esses dias eu peguei um personagem com o nome de Enferrujado, que parece uma tradução direta de Rusty. Mas em português ninguém chamaria alguém de Enferrujado, seria Ferrugem. São coisas como essas que entregam.

 
3. Português de Portugal: A IA às vezes escorrega em expressões e construções que são mais próprias do português de Portugal, como eliminar os gerúndios: “Eu estava a andar quando o encontrei”.
E esses são só os três pontos mais flagrantes.

 
Eu ainda não consegui encontrar utilidade e graça pra IA. Mas fico pensando se não serviria, por exemplo, quando estou reescrevendo por extenso todos os numerais que encontro numa leitura crítica.

De toda forma, acho que essa expertise que estou criando de IDENTIFICAR IA em ficção já é bem-vinda. Como jurado de prêmios, se pego uma coisa dessas, você está desclassificado...

23/06/2025

ORGULHO (DE MIM MESMO)



A primeira parada dela. 

Essa semana do Orgulho (gay) foi intensa e importante para eu reafirmar minhas escolhas, meus orgulhos, perceber que há caminhos para eu ser quem eu sou...

Raphael sempre foi um querido e merece o sucesso que faz. 

Começou com a Feira do Livro do Pacaembu, onde assisti a várias mesas, encontrei editores, recebi propostas e pude refletir sobre minha trajetória de escritor. Encontrei também amigos queridos - o Raphael Montes e a Tati Bernardi – que defendem propostas mais comerciais de literatura e sempre me estimulam a seguir esse caminho. Mas eu nasci para ser alternativo. Nunca gostei do que todo mundo gosta e não poderia ser esse tipo de escritor. Tati Bernardi fala que o histórico dela de publicidade é que a levou a fazer uma literatura que vende. Comigo foi o contrário, eu larguei a publicidade para fazer o que acredito, trazer a minha visão de mundo; se fosse para fazer o que vende eu ficaria na publicidade... que rende mais.

A Tati fazia tempo que eu não via. 


Isso tem muito a ver com a minha formação. Na minha família, a arte nunca foi um meio de ascensão financeira, pelo contrário. Tanto minha família paterna quanto materna tinham grana, e a arte foi meio que uma maldição, um voto de pobreza... Eu não consegui escapar disso. 

(E ainda assim, vez ou outra, as minhas propostas mais absurdas – como um livro narrador por um jacaré de esgoto – até que vendem bem...)

E para seguir no Orgulho de ser quem eu sou, pude levar minha sobrinha pela primeira vez na Parada LGBT+. Ela está com treze, é uma aliada forte dessa geração fluida, e estava na hora de ela ver o que é realmente essa parcela da população.


Pode ser aliada, mas se aparecer com namorada eu deserdo!

Chegamos cedo para ela ver a parte mais política, engajada (e o povo ainda não tão louco e colocado). Ela durou pouco, mas se divertiu, comprou uma bandeira, e encontramos alguns amigos queridos, como o Marcelino Freire com o Gero Camilo.

Marcelino e Gero. 

Depois de levá-la para almoçar e entregá-la em casa, voltei para a outra parada, do final do dia, em que o povo já tá tudo se pegando, mijando e vomitando pelos cantos. Acho que nunca fui tão paquerado. O chifre deve ter ajudado, porque traz certo humor e uma entrada para o povo se aproximar, porque eu não sei sorrir e sempre passo como carão...

Então, enfim, tirei a seca... Povo não acredita, mas fazia quase TRÊS ANOS que eu não dava nem um beijo. Tem a ver com a idade, com estar de saco cheio dos gays, mas também com minhas próprias escolhas... Gay gosta é de padrãozinho – homem fantasiado de homenzinho -, e um cabelo comprido, um olho pintado não são atrativos. Mas essa é outra concessão que não faço. É assim que eu gosto de ser e assim que vai ter que rolar (ou não). O que eu posso fazer é me esforçar para emagrecer, malhar, até para eu mesmo ter a autoestima que ajuda as coisas a acontecerem. (Até porque, não tenho pelos suficiente para passar por urso. Eu não me depilo nada e os poucos pelos que eu tenho mal registram em foto...)

De qualquer forma, ontem, funcionou, com o cabelo comprido, com os cabelos pintados, e com os chifres... Acho que a mágica estava nos chifres. Agora só vou sair de casa com chifres.

O Veado ontem tava matador...

17/06/2025

CHOQUES E PRIVILÉGIOS

 

Com Leonardo e Camila. 


Surpreendente o debate ontem na Feira do Livro do Pacaembu. Foi uma mesa paralela, numa noite de segunda, achei que não ia ter ninguém e até questionei do que valia. Mas teve um público ótimo, reencontrei amigos e colegas queridos, e o debate rendeu horrores.



Pudemos conversar sobre a atual censura mercadológica nos livros, as pautas e as polêmicas - meu lugar de privilégio como escritor branco e minha cota como autor gay. Camila Dias mediou muito bem - sem condescendência, dando as devidas alfinetadas e intimadas. Leonardo Garzaro foi a voz da ponderação e agradeço muito a ele pelo convite. 


No sábado, vi a pré-estreia do documentário Palavra Expressa, com a Veronica Stigger, do qual sou personagem em um dos episódios. 

Fora a mesa de ontem, andei circulando pela feira também no fim de semana, vi diversas mesas, tudo de graça e do lado de casa. Eu não tenho sido convidado para muitos eventos, não costumo ir na Flip, então foi uma oportunidade cada vez mais rara de ser visto, ver o que está acontecendo e acompanhar as discussões do momento. 

Ganhei a noite de ontem quando o Fábio Massari veio me dizer que era meu leitor. Cresci vendo o Lado B da MTV. E ele ainda me deu um livraço. 


Recebi propostas bem interessantes para novos livros, tirei muitas fotos... mas não comi ninguém!


Meu vizinho Staut, sempre presente 

Cruzei por lá com o querido Alexandre Staut, Pedro Balciunas, Ricardo Ramos Filho, Tati Bernardi, Celso Suarana, Sergio Keuchgerian, Wellington Furtado, Veronica Stigger, Henrique Borlina, Cristhiano Aguiar, Simone Paulino, Noemi Jaffe, Luciany Aparecida, João Anzanello Carrascoza, Fábio Massari, Cadão Volpato, Bernardo Ajzemberg... enough name-dropping!


Meu mestre, Wellington Furtado, que foi meu fotógrafo oficial. 


12/06/2025

FEIRA DO LIVRO

 



Começa neste final de semana mais uma Feira do Livro no Pacaembu, aqui em SP. Eu sempre acabo indo, é perto, dá pra ir a pé, e gosto de encontrar os amigos e ver o que está rolando... 

Sempre falo isso, como é fundamental para a formação do autor participar de eventos literários, não ficar apenas trancado em casa alimentando vaidades ou paranoias.

Quem não está na programação oficial sempre pode ir assistir, ver o que os outros autores têm a dizer. Às vezes é melhor do que ficar inventando mesas paralelas para tentar atrair meia dúzia de gatos pingados.

Mas eu estarei numa mesa paralela, a convite do Leonardo Garzaro, debatendo censura, limites e possibilidades da ficção, mediados pela Camila Dias. 

É segunda, 17:30, no Tablado Literário das Bancadas. 

Além disso, estarei no sábado, na estreia do documentário Palavra Expressa, que foca na relação dos escritores com suas cidades. Cada episódio é um escritor - e eu estou no de São Paulo. Mas a apresentação da Feira do Livro será com a querida Veronica Stigger. 



17/05/2025

SEMANA DE ANIVERSÁRIO

Segunda, em Santo Antonio de Lisboa.


 Este ano comemorei o aniversário como devia. 4 dias em Florianópolis e ainda encontrei os amigos em São Paulo. Os dias estavam deliciosos - meio frios, mas com sol - as praias vazias; encontrei a familinha de Floripa, comi as comidinhas de praia que eu amo, caminhei muito e mantive o peso (mas foi a primeira semana do ano que não perdi). 

Não tenho grandes planos para o ano, para a VIDA! O trabalho segue constante, o dinheiro contado, os sonhos todos no passado... Mas dias assim ainda fazem valer a pena. 

Encontrando mãezinha Ida, que também fez aniversário esses dias. 

Irmãozinho Taiya em Floripa. 



Mergulho noturno. 
Drinques com a Taina, que foi minha dupla quando trabalhei numa agência de publicidade em Porto Alegre. 

Me esbaldei de camarão. 


De peixe e ostra. 


A pousada Lozalti é ótima, quarto enorme, bom café da manhã e piscina delícia. 



E teve ótimas leituras na piscina. Aqui o Elton Frederick



E aqui o Alessandro Thomé.


Por sinal, ontem teve o lançamento do Thomé aqui em SP e aproveitei para comemorar também. Reencontrei o Thales Guaracy e meu sobrinho emprestado, o Kaio. 



Menino mais querido. 


Agora é voltar ao sofrimento!



15/05/2025

FESTA EM SÂO PAULO



E a festa continua em São Paulo!

Sexta tem lançamento do camarada Alessandro Thomé e eu e o Thales Guaracy faremos uma mesa com ele na Ria.
 
O livro é uma parábola sobre a construção das sociedades, através de uma ilha fictícia perdida no tempo, com moradores peculiares e tradições insólitas... Tem o humor, a poesia e a malemolência marítima de que só o Alê é capaz.
 
Ele vai autografar, nos vamos papear e depois beber (ou antes, ou durante...). Apareçam que será ESSA a minha comemoração de aniversário em São Paulo (e nem precisam levar presente, é só comprar o livro do Alê).
 
A Ria fica colada no metrô Vila Madalena e, pelo menos até umas 22h, estaremos por lá.


12/05/2025

THIS IS HOW I DISAPPEAR


Faço 48 anos com corpinho de 43...

Esse era eu na pandemia...


Só neste ano de 2025, de janeiro para cá, perdi 15kg. Da vez anterior, que perdi 30 kg (de 2019 para 2020), postei todo o processo nas redes sociais, a dieta, como um bom blogueirinho fitness  (ou biscoteiro carente).

(Aqui todo o projeto fitness de 2019 - é basicamente o mesmo:   https://santiagonazarian.blogspot.com/2019/12/perca-peso-pergunte-me-como.html

Mas sempre avisei que era só eu casar, que no dia seguinte engordava 30kg de novo.

Não casei, mas também não engordei tudo de volta. Tive alguns namoros, teve a pandemia, recuperei uns 20kg, dos quais agora já perdi 15 de novo.

Esses dias, na piscina de um amigo. 

Gosto de comer, gosto de cozinhar, gosto de beber e, para ser magro, hoje em dia, eu preciso passar fome. Só exercício físico não adianta, porque eu nunca parei de malhar. E sinceramente, não sei se vale a pena.

Além da dieta, o treino com Gabriel Ferraz faz a diferença, excelente professor. 

(Nunca gostei de homem forte, nunca gostei de SER forte; malho porque é o que dá. Não dá para ser twink na terceira idade, como o Serginho Groisman...)

Tiozão em forma. 

E tiozão em forma só atrai tranqueira, né? O creme não compensa. Claro que tem a vaidade pessoal, mas também não sei se a vaidade compensa. O mundo literário não valoriza o escritor em forma. Sei bem como sofri preconceito quando eu era um jovem escritor de tanquinho! A Granta não aceita autores gatinhos!

Essa é clássica (e aqui eu já tinha uns trinta anos...)

O argumento de que a gente se sente melhor mais magro também é relativo. Eu me sinto mais disposto, mas será que disposição é algo sempre positivo? Essa energia a mais que ganho mais magro – o que faço com ela? Eu me sinto mais disposto e mais pilhado, mais ansioso, menos concentrado; malho melhor, trepo melhor... (talvez, não sei, ainda não testei), mas escrevo pior, durmo bem pior. (Durmo muito melhor quando posso comer, quando posso beber...)


Aniversário aqui em Floripa. 

E quando eu estou comendo, quando estou bebendo, eu sigo as postagens da 451, da revista Morel, do Fórum de Teresina! Quando eu emagreço, começo a ver os vídeos do Cariani, do Paulo Muzzy, do Leo Stronda!

Por isso que segui meu plano fitness desta vez mais quietinho, menos convicto, fica cada vez mais difícil. Mas é bom ver que ainda é possível – passo fome durante a semana e ainda posso me esbaldar nos finais. Afinal, minha maior conquista este ano tem sido desaparecer...

Neste domingo em Floripa, bebendo com a velha amiga Taina. 

24/04/2025

iDENTIDADE ARMÊNIA

Eu na Armênia, em 2015. 


Hoje se completam 110 anos do Genocídio Armênio.

Sempre que eu falo que sou armênio, as pessoas questionam, se são meus avós, onde meus avós nasceram, mais ou menos como aqueles alemães do interior de Santa Catarina...

Mas eu cresci ouvindo: Aracy Balabanian é armênia; a Cher é armênia; toda família armênia faz questão de apontar quem é... (mais ou menos como os gays...), porque não é uma questão de nacionalidade, é uma questão de etnia e sobrevivência, mais ou menos como ser judeu.

Quando meus avós nasceram, por exemplo, nem existia a Armênia, como um país, e a imensa maioria dos armênios que vieram para o Brasil ou que se espalharam pelo mundo, vieram fugidos do Império Otomano, a atual Turquia, não da Armênia que existe hoje. Era uma raça, uma etnia, perseguida historicamente dentro de um império muçulmano, que sofreu um genocídio durante a primeira guerra mundial.

Então os armênios daquela época eram nascidos na Turquia, ou na Rússia, ou na Persia, mas ainda eram armênios. O que fazia deles armênios é uma pergunta que eu sempre me fiz. O que faz de mim armênio?


Com o Monte Ararat ao fundo. 


Foi muito o que eu procurei responder quando fui à Armênia, em 2015, e em toda a minha pesquisa para meu romance Fé no Inferno. O que é um armênio? (e é possível ser armênio sendo ateu? E sendo gay?)

Acho que entendi que meio que o consenso é que os armênios são os descendentes de armênios, que carregam o sobrenome (ou o sangue!). Como foi um povo que sofreu um genocídio, eles consideram qualquer descendente um sobrevivente, portanto um armênio. É uma questão de resistência.



Os armênios gostam de inflar os números, e apontar – Santiago é armênio, Fiuk é armênio – ao contrário de outros povos, como os alemães, que estão enxotando os latinos de Pomedore, que se consideram Europeus.

Os números oficiais, inclusive, dizem que existem cerca de 10 milhões de armênios no mundo, três milhões nascidos na Armênia. Eu estou entre esses dez milhões.

Quando fui para a Armênia, eu via pelas ruas: “Aquela parece minha prima, aquela parece minha tia”; eu mesmo tenho algo de armênio nos olhos (tinha mais nas sobrancelhas, mas raspei zero na minha adolescência gótica e ela nunca mais cresceu igual!); felizmente não tenho o nariz...

Mas se você quiser saber mais sobre armenidades, eu sugiro a leitura do livro “Genocídio Armênio”, do meu amigo Heitor Loureiro, que acabou de sair pela Juruá Editora, que tem toda a base histórica, de uma maneira bem didática e objetiva. O Heitor é um dos maiores especialistas do tema no Brasil, inclusive foi meu orientador no meu romance; ele que me emprestou grande parte dos livros da minha pesquisa, leu a primeira versão do livro, fez apontamentos.

Tem também “A Um Fio da Morte”, um dos relatos mais completos em primeira pessoa de um dos sobreviventes do Genocídio, o Hampartzoum Chitjian. E a edição brasileira foi traduzida por mim para a Autonomia Literária.

E quem quiser ver uma versão romanceada da historia, leia meu Fé no Inferno. Conta a história de um cuidador de idosos, brasileiro, indígena, gay, que vai cuidar de um velho armênio nos Jardins, em São Paulo (muito baseado nos meus avós) e, conhecendo a história do genocídio, começa a reavaliar a sua própria condição de cidadão de segunda classe, no Brasil às vésperas da eleição do Bolsonaro.

O livro intercala esses dois momentos – Brasil em 2017 e o Império Otomano durante a primeira guerra mundial. Foi finalista do Jabuti, do Oceanos e ficou em segundo lugar no Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, em 2021.





28/03/2025

QUAIS SÂO OS LIMITES DA FICÇÃO?

 


Vi esses dias uma discussão interessante, perigosa, num canal sobre livros.

Uma autora australiana de literatura “hot” foi presa por autopublicar um romance sobre uma menina que tem fantasias sexuais com um adulto. Parece que na Austrália se enquadra como promoção (ou “apologia”, essa palavra tão perniciosa) da pedofilia, e no Brasil não está muito longe disso...

Todos os comentários que eu vi no canal foram aplaudindo a prisão. Sendo que foi a prisão de uma autora por escrever ficção. Talvez ela devesse ter sido presa pelo mau gosto, por escrever mal, mas eu acho muito perigoso o caminho de censura que está chegando aos livros...

Para começar, um vídeo que fala dessa notícia não pode nem colocar a palavra “pedofilia”, senão o Youtube não entrega o conteúdo ou desmonetiza. (Talvez ninguém nem leia este texto porque as redes não entreguem.) Canais dedicados ao true crime não podem colocar palavras como 4SS4SS1N4T0; já vejo autores censurando seus próprios títulos (como o Raphael Montes com seu SU1C1D4S), senão não chega aos seguidores.

A censura (e a prisão) de uma autora pelo TEOR do livro é ainda mais grave, porque pra ter acesso ao conteúdo a pessoa tem que comprar, ler ativamente, uma obra de ficção. É um crime que não tem nenhuma vítima.

(Daí se pode advogar contra a “apologia”, que isso incentiva; mas daí tudo está sujeito; uma criança que vê o Superman pode se jogar pela janela...)

O que se exercita em ficção, em fantasia não é porque necessariamente se queira concretizar. Quantas vezes a gente não pensa como seria matar alguém? Quantos casais brincam com algemas, encenam estupros; isso está longe de querer dizer que queriam que se concretizasse.

A literatura é dos últimos refúgios do indivíduo, onde se pode falar o que não se fala em lugar nenhum, porque não precisa de consenso, não precisa de grandes patrocínios, não precisa de atores para encenar a cena. É um terreno para oferecer uma visão ALTERNATIVA da realidade, não o senso comum. Mas isso está MUITO ameaçado, e ninguém fala sobre isso.

Por isso que eu falo tanto, repito tanto, já publiquei matéria na Folha ano passado sobre isso. Mas o povo não quer entrar nessa discussão. Prefere ficar na discussão rasa de “censura” de autor bestseller da vez que foi barrado por uma diretor de escola no interior dos cafundós.

Claro que eu advogo em causa própria, eu adoro literatura extrema. Adoro ler e adoro exercitar o lado perverso da realidade, porque só faço isso em livro. E eu estou me tornando um autor cada vez mais underground, não porque tô pesando mais a mão, mas porque o mundo tá ficando cada vez mais careta.

(Um livro como Mastigando Humanos foi comprado pelo governo, adotado no Ensino Médio, foi leitura de vestibular. Isso há menos de vinte anos. Hoje em dia, jamais! Hoje em dia toda literatura de respeito tem que levantar bandeiras...)

(Pela lógica da prisão da australiana, o que seria hoje de Hilda Hilst?)

26/03/2025

NOVA OFICINA




Vamos falar sobre SEU livro?

Você que está começando um romance, tem as primeiras páginas, um projeto, manda pra mim, que a gente vai discutir os temas, os caminhos e a estrutura do seu romance.

Estruturando Seu Romance é um curso novo que eu criei, derivado das minhas leituras críticas, para a gente falar mais sobre como armar uma estrutura e seguir com a escrita, com fluxo de consciência, escaleta, escaleta reversa e a abertura do romance.

Eu já fui muito jurado de concursos e prêmio literários (comecei a publicar por um prêmio, inclusive) e eu vejo como é importante fisgar o leitor já nos primeiros parágrafos, já na frase de abertura. E dá tranquilamente para fazer isso com seu texto.

É uma oportunidade de a gente avaliar suas primeiras páginas, trocar com outros autores e fazer exercícios para destravar. (Mais barato do que uma leitura crítica.)

Vão ser em datas intercaladas em 9 e 23 de abril e 7 de maio, para fugir dos feriados você ter tempo de escrever, eu ler, fazer as marcações.

As informações básicas estão no flyer e o email para saber mais e se inscrever. Primeiros inscritos têm desconto, para viabilizar a turma

Vamos falar sobre SEU livro? Você que está começando um romance, tem as primeiras páginas, um projeto, manda pra mim, que a gente vai discu...